Quando se fala em vacinação, habitualmente se pensa na população infantil, porque culturalmente “vacinação é coisa de criança”. Portanto, orientar vacinação para adultos em geral não faz parte da abordagem rotineira da assistência à saúde nessa faixa etária. A maioria dos adultos não tem registro de vacinas em caderneta de vacinação. Isso acontece com as mulheres e também com os homens.
Faz anos que você tomou a vacina? Perdeu a caderneta de vacinação? Não lembra se tomou todas as doses de que precisava? Calma, você pode procurar um posto de saúde para tomar as vacinas que não recebeu ou não lembra se recebeu.
Segundo o Ministério da Saúde, a partir dos 20 anos você precisa se vacinar ao menos contra sarampo, caxumba, rubéola, hepatite B, febre amarela, difteria e tétano. Para se proteger de todas essas doenças, são quatro tipos de vacinas, disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS):
- Hepatite B – são três doses, para quem não tomou durante a infância ou nunca teve a doença. Você deve tomar a segunda dose um mês após a primeira; e a terceira, seis meses após a segunda.
- Tríplice viral (SRC) – protege contra sarampo, caxumba e rubéola. A dose é única e é contraindicada para gestantes e pessoas com imunidade comprometida.
- Dupla adulto (dt) – protege contra difteria e tétano. Você precisa tomar uma dose a cada dez anos, por toda a vida.
- Febre amarela – você também precisa ser vacinado uma vez a cada dez anos. É indicada somente para quem reside ou para quem vai viajar para lugares onde o risco da doença é alto. Mas ela é contraindicada para as gestantes e para as mulheres que estiverem amamentando.
Além dessas, é importante se vacinar uma vez por ano contra a gripe, principalmente quem tem mais de 60 anos. Esse grupo também não pode deixar de tomar a vacina antipneumocócica, que protege de doenças graves, como pneumonia e meningite.
Se você perdeu sua caderneta e não sabe quais vacinas já tomou, o melhor a fazer é considerar não ter sido vacinado, já que a repetição de doses não traz problemas. Mas o ideal é fazer um controle. Por meio de um exame de sangue também é possível afirmar se você está imunizado contra uma determinada doença; converse regularmente com seu médico.
Um adulto pode utilizar diferentes vacinas no mesmo dia?
Sim, se houver indicação. O uso simultâneo de várias vacinas no mesmo dia é uma prática rotineira e não faz aumentar os eventos adversos secundários a aplicação dessas múltiplas vacinas.
Quando um adulto tem carteira de vacinação da época que era criança e agora decide se vacinar tem que recomeçar todo o esquema vacinal?
Não. A “bagagem vacinal” do indivíduo sempre é valorizada e aproveitada. Se a pessoa tem documentação sobre esquemas vacinais realizados na infância isso ajuda muito. A orientação é completar os esquemas, avaliar necessidade de reforços, mas não recomeçar esquema de vacinação. O sistema imune do indivíduo guarda informações recebidas previamente e quando novamente estimulado essas informações são recrutadas e entram em ação para defender o indivíduo. Por essa razão sempre se aproveita doses anteriores de vacinas.
Que situações críticas de saúde são importantes para vacinar um adulto?
Onde um adulto pode atualizar seu esquema de vacinação?
A gestante deve tomar alguma vacina?
Existem situações onde a ocupação do indivíduo leva a indicações especiais de vacinas?
Há algumas situações em que a exposição ocupacional é importante, por exemplo, o profissional de saúde (PS). Todo PS deve ter seu esquema atualizado, pois corre risco de exposição quando exerce a função assistencial e também porque ele pode colocar em risco o paciente que atende ao transmitir alguma doença para a qual não esteja imune. Chamo atenção que todo PS tem direito a atualizar seu esquema vacinal nos CRIEs com vacinas contra varicela, hepatite B, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), tétano, gripe e outras na dependência da sua situação vacinal e de saúde. Pessoas que trabalham, por exemplo, em zoológicos e em captura de animais devem ser vacinadas contra raiva.
A vacina contra HPV é indicada apenas para mulheres?
O HPV (papilomavirus) é uma infecção sexualmente transmissível e a maioria das pessoas infectadas não desenvolvem sintomas. Hoje são disponíveis duas vacinas contra o HPV. Uma delas tem como foco principal a prevenção de câncer genital, principalmente câncer de colo do útero. Essa vacina é licenciada para ser utilizada em mulheres. É a vacina conhecida como HPV bivalente. Existe outra vacina, conhecida como HPV quadrivalente, que além de prevenir câncer genital, principalmente de colo do útero, também protege contra verruga genital, sendo indicada e licenciada tanto para mulheres quanto para homens. Ambas as vacinas são excelentes na prevenção do câncer cervical, mas não substituem a triagem que deve ser realizada anualmente em mulheres com vida sexual ativa, através do teste de Papanicolau, para detecção precoce de lesões pré-cancerosas.
Em relação à vacina contra a bactéria meningococo ela deve ser utilizada pelos adultos?
Adultos que vivem em áreas de risco, devem se vacinar. Na dependência da área, podemos ter predomínio de diferentes sorogrupos de meningococo. Por essa razão, a pessoa deve ser orientada adequadamente. Hoje existem duas vacinas conjugadas contra meningococo disponíveis. Uma monovalente, contra meningococo C e outra quadrivalente contra os sorogrupos A, C, W135 e Y. No serviço público existe apenas a monovalente. Em breve teremos outra vacina específica para o sorogrupo B.
Existe alguma forma de se melhorar o panorama de vacinação do adulto?
Sim, tornando rotineira a abordagem sobre vacinação em todas as situações de assistência à saúde. Primeiro avaliar a condição vacinal do adulto levando em consideração se esse adulto é hígido ou é uma pessoa portadora de alguma condição de saúde que cause imunodepressão (doenças ou uso de medicações). Avaliar risco profissional de exposição ou risco temporário em função de alguma viagem (vacinação do viajante), dessa forma priorizando vacinas de acordo com o risco de exposição atual. Lembrar que muitas vezes é preciso flexibilizar o esquema vacinal em função da aceitação, sobretudo quando lidamos com adolescentes. Essa abordagem deve ser feita rotineiramente, no caso dos médicos, nos acompanhamentos ambulatoriais de diferentes especialidades, lembrando que o trabalho interdisciplinar é fundamental para melhor assegurar uma imunização adequada. A imunização também necessita ser mais divulgada no meio acadêmico, para que os estudantes da área de saúde possam se familiarizar com a diversidade de indicações das vacinas e dessa forma beneficiar a população com medidas preventivas que sabidamente trazem resultados positivos. Vacinação não é privilégio da criança, ela passeia do recém-nascido ao idoso.